Coimbra, 3 de Outubro
NASCIMENTO
Nascem os homens como deuses pobres:
Nus e de um ventre que desesperou
De os guardar
Sagrados e secretos no seu lago.
Nascem disformes, sem nenhum afago
Da raiva desabrida que os expulsa
E das mãos aterradas que os recebem.
Bebem
O ar do mundo aos gritos.
Olham sem ver, e são
Surdos e Transitórios
Da nossa Devoção.
MIGUEL TORGA
(pseudónimo)
ADOLFO CORREIA ROCHA
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Poema número 20
@ Neruda
Posso escrever os versos mais
tristes esta noite.
Escrever, por exemplo:
<“A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes
esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também
me quis....
Em noites como esta eu a tive entre
os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo do
céu infinito.
a queria.
Como não ter amado os seus grandes
olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes
esta noite.
Pensar que não a tenho.
Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa
sem ela.
E o verso cai na alma como na relva
o orvalho.
Que importa que meu amor não
pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não
está comigo.
Isso é tudo.
Ao longe alguém canta.
Ao longe.
Minha alma não se contenta com
tê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar
a procura.
Meu coração a procura, e ela não
está comigo
A mesma noite que faz branquear
as mesmas árvores.
Nós ,os de então,já somos os mesmos.
Já não a quero, é verdade, mas
quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para
tocar o seu ouvido.
De outro.
Será de outro.
Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro.
Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade,
mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão
longo o esquecimento.
Porque em noites como esta
eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com
tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor
que ela me causa,e estes,os últimos versos que lhe escrevo.
Bom domingo!!! Paz e Luz...
Bjs.
Vida.
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