No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-- Duas, de lado a lado --,
Jaz morto, e arrefece
II
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
III
Tão jovem ! que jovem era !
(Agora que idade tem ?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera
« O menino da sua mãe »
IV
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
V
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo.
A brancura embainhada
De um lenço ... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
VI
Lá longe, em casa, há a prece:
« Que volte cedo, e bem !»
(Malhas que o Império tece !)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa
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