Saturday, January 26, 2008

A rua dos cataventos - Mário Quintana




A rua dos cataventos


Da vez primeira em que me assassinaram,

Perdi o jeito de sorrir que eu tinha.

Depois, a cada vez que me mataram,

Foram levando qualquer coisa minha.


II


Hoje, dos meus cadáveres eu sou

O mais desnudo, o que não tem mais nada.

Arde um toco de Vela amarela,

Como o único bem que ficou.


III


Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!

Pois dessa mão avaramente adunca

Não haverão de arrancar a luz sagrada.


IV


Aves da noite! Asas do horror! Voejai!

Que a luz trêmula e triste como um ai,

A luz de um morto não se apaga nunca!


Mário Quintana

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