Friday, June 29, 2007


S/Título - Fernando Pessoa



Leram-me hoje S. Francisco de Assis.

Leram-me e pasmei.

Como é que um homem que gostava tanto

das cousas

Nunca olhava para elas, não sabia o

que elas eram?


II


Para que hei-de chamar minha irmã à água,

se ela não é minha irmã?

Para a sentir melhor?

Sinto-a melhor bebendo-a do que chamando-lhe

qualquer cousa -- Irmã, ou mãe, ou filha.

A água é a água e é bela por isso.

Se eu lhe chamar minha irmã,

Ao chamar-lhe minha irmã, vejo que o não é

E que se ela é a água o melhor é chamar-lhe água;

Ou, melhor ainda, não lhe chamar cousa nenhuma,

Mas bebê-la, senti-la nos pulsos, olhar para ela

E tudo isto sem nome nenhum.


Alberto Caeiro

(Um dos heterónimos de FERNANDO PESSOA)


Citações de Diversos Temas ...






Citações do Tema Inveja:




A inveja é um vício mesquinho e sórdido:


o vício do condenado que reclama porque


o seu companheiro de prisão recebeu uma


ração de sopa maior !




Niceto Zamora




**




Citações do Tema Dignidade




A única dignidade realmente autêntica ante


a indiferença dos outros ...




Dag Hammarkskjod




**




Citações do Tema Bom Senso




Raramente conhecemos alguém de bom senso,


além daqueles que concordam connosco !




François La Rochefoucauld




**




Citações do Tema Carácter




É uma grande infelicidade perder por causa


do nosso carácter os direitos que os nossos


talentos nos concedem na sociedade ...




Sébastien-Roch Chamfort




**




Citações do Tema Amizade




Toda a gente é capaz de sentir os sofrimentos


de um amigo. Ver com agrado os seus êxitos


exige uma natureza muito delicada!




Oscar Wilde




**




Citações do Tema Imaginação




A imaginação tem todos os poderes: ela faz a


beleza, a justiça, e a felicidade, que são os


maiores poderes do mundo.




Blaise Pascal























Thursday, June 28, 2007


S/Título - Miguel Torga




O que é bonito neste mundo, e anima,

É ver que na vindima

De cada sonho

Fica a cepa a sonhar outra aventura...

E que a doçura que se não prova

Se transfigura

Numa doçura

Muito mais pura

E muito mais nova...


MIGUEL TORGA



« Acreditamos muitas vezes que Deus não

escuta nossas perguntas!

Ao contrário, nós é que não ouvimos as

suas respostas... »

François Mauriac

S/Título - Fernando Pessoa



« ... Fiz de mim o que não soube.

E o que podia fazer de mim não fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não

era e não desmenti, e perdi-me...


II


Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.


III


Estava bêbado, já não sabia vestir o

dominó que não tinha tirado

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário.

Como um cão tolerada pela gerência.

Por ser inofênsivo.


IV


E vou escrever esta história para provar

que sou sublime...



Álvaro de Campos

(Heterónimo de FERNANDO PESSOA)



« Nunca a fortuna põe um homem em tal altura

que não precise de um amigo! Séneca »



















Wednesday, June 27, 2007

Posted by Picasa


Ao Longe - Ricardo Reis


AO LONGE
Ao longe os montes têm neve e Sol,
Mas é suave já o frio calmo
Que alisa e agudece
Os dardos do sol alto.
Hoje, Neera, não nos escondamos,
Nada nos falta, porque nada somos.
Não esperamos nada
E ternos frio ao sol.
Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.
"Ricardo Reis" um dos heterónimos de
FERNANDO PESSOA

A Ilha do Arcanjo - "O dilúvio e a pomba"- Natália C.



A ILHA DO ARCANJO

«O dilúvio e a pomba»


Eu vos direi da ilha que na dorna

do Arcanjo é eterna em chão escasso.

Fulva de gado ao dia. À noite, morna.

Embebida no verde. E o mar colaço.



Ilha do alumbramento em templo torna

a unção de contemplar. Um ténue traço

de garça entre água e céu. A paz se escorna

em lagoa e lavoura o tempo e em espaço.



Tanto silêncio confiado à luz !

Treme um nenúfar se um trilo tremeluz

Caiam o sol de azul os agapantos.



Na cevadeira a broa luminosa,

romeiros nos persignam com uma nova rosa

Suas rezas joeiram pombos santos!


NATÁLIA CORREIA

Tuesday, June 26, 2007

Vidro côncavo - António Gedeão




VIDRO CÔNCAVO


Tenho sofrido poesia

como quem anda no mar.

Um enjoo.

Uma agonia.

Saber a sal.

Maresia.

Vidro côncavo a boiar.


Doi esta corda vibrante

A corda que o barco prende

à fria argola do cais

Se uma onda que a levante

vem logo outra que a distende.

Não tem descanso jamais.


ANTÓNIO GEDEÃO





Monday, June 25, 2007



Com cinco letras de sangue - Manuel Alegre




COM CINCO LETRAS DE SANGUE


De súbito três tiros na memória

Apagaram-se as luzes. Noite. Noite.

De súbito três tiros nas palavras

Um poeta calou-se apagou-se a canção.



De súbito um poema foi bombardeado

um poeta fechou-se nas vogais

cercado por consoantes que talvez

caminhassem cantando para um verso.



Eram granadas ? Eram sílabas de fogo ?

De súbito a guerra. Noite. Noite. E um poeta

com cinco letras escreveu no chão: porquê ?

com cinco letras do seu próprio sangue...


MANUEL ALEGRE



« É mais fácil fazer a guerra do que a paz! »

Georges Clemenceau




Sunday, June 24, 2007


Quase - Sá Carneiro




QUASE


Um pouco mais de sol -- eu era brasa.

Um pouco mais de azul -- eu era além

Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído

Num grande mar enganador de espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,

O grande sonho -- ó dor! -- quase vivido...



Quase o amor, quase o triunfo e a chama,

Quase o princípio e o fim -- quase a expansão...

Mas na minh'alma tudo se derrama...

Entanto nada foi só ilusão!



De tudo houve um começo... e tudo errou...

-- Ai a dor de ser -- quase, dor sem fim...

Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

Asa que se elançou mas não voou...



Momentos de alma que desbaratei...

Templos aonde nunca pus um altar...

Rios que perdi sem os levar ao mar...

Ânsias que foram mas que não fixei...



Se me vagueio, encontro só indícios...

Ogivas para o sol -- vejo-as cerradas;

E mãos de herói, sem fé, acobardadas,

Puseram grades sobre os precipícios...



Num impeto difuso de quebranto,

Tudo incestei e nada possuí...

Hoje de mim, só resta o desencanto

Das coisas que beijei mas não vivi...



Um pouco mais de sol -- e fora brasa,

Um pouco mais de azul -- e fora além.

Para atingir faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


SÁ CARNEIRO









Saturday, June 23, 2007




Citações do Tema Beleza




Uma pessoa bela é geralmente boa, mas

é raro que seja sensível. Ocupa-se pouco

dos outros quem tem tanto prazer de se

contemplar a si mesmo; não se esforça

muito em amar quem sabe que deve

agradar...

Claire Rémusat



As mulheres bonitas não sabem

envelhecer, os artistas não sabem

sair de cena quando é tempo:

ambos estão errados.

Artur Rubinstein



A beleza está nos olhos de quem a vê...

Ramón C. y Campoosorio



Não penses; canta. Toda a ciência é vã.

Ama só a beleza: Que para ti seja toda a verdade!

Charles Lerberghe




Grito - David Mourão-Ferreira



GRITO...


Cedros, abetos,

pinheiros novos.

O que há no tecto

do céu deserto,

além do grito?

Tudo o que é nosso.



São os teu olhos

desmesurados,

lagos enormes,

mas concentrados

nos meus sentidos.

Tudo o que é nosso

é excessivo.



E a minha boca,

de tão rasgada,

corre o teu corpo

de pólo a pólo,

desfaz-te o colo

de espádua a espádua,

são os teus olhos,

depois do grito.



Cedros, abetos,

pinheiros novos.

É o regresso.

É o silêncio

de outro extremo

desta cidade

a tua casa.

É no teu quarto

de novo o grito.



E mais nocturna

do que nunca

a envergadura

das nossas asa.

Punhal de vento,

rosa de espuma:

morre o desejo

nasce a ternura.

Mas que silêncio

na tua casa...


DAVID MOURÃO-FERREIRA


« As virtudes perdem-se no interesse,

tal como os rios no mar! »

François La Rochefoucauld














Cancioneiro Popular - Os Poetas Lusíadas



CANCIONEIRO POPULAR


Esta noite choveu oiro,

Diamantes orvalhou

Lá vem o sol com seus raios

Enxugar quem alagou.



A raiz da faia forte

A terra vai aluindo;

Vosso corpo vai crescendo,

Vossas feições vão abrindo.



Já chove água das nascentes

Já correm os regatinhos;

Já os campos estão contentes,

Já cantam os passarinhos...


POETAS LUSÍADAS



« O destino de todos os grandes homens é

serem ignorados ou caluniados em vida

e admirados depois da sua morte »

Jeanne Pompadour









Friday, June 22, 2007

Merchant of Venice - William Shakespeare



MERCHANT OF VENICE


« ... How far that little candle


throws his beams !


So shines a good deed


in a naughty world ... »



WILLIAM SHAKESPEARE

Ser Feliz - Fernando Pessoa




SER FELIZ


« Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes ,

mas não me esquecer de que a minha vida é a maior empresa do

mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os

desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-me um

autor da própria história. É atravessar desertos fora de mim,

mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma.

É agradecer a Deus, todas as manhãs, pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo... »


FERNANDO PESSOA !


Poema de tradição popular - Os Poetas Lusíadas



Poema de tradição popular


Chamaste-me tua vida,

Eu tua alma quero ser,

A vida acaba com a morte,

A alma não pode morrer.



O meu coração do teu

É muito ruim de apartar;

É como a alma do corpo,

Quando a alma a quer levar!



Já morri, já me enterrei!

E agora já estou aqui.

Nem a terra me comia

Sem eu me despedir de ti!



Ó noite que vai crescendo,

Tão cheia de escuridão,

Tu és a flor mais bela

Dentro do meu coração!


OS POETAS LUSÍADAS



« Sofremos muito com o pouco que nos

falta e gozamos pouco com o muito que

temos... William Shakespeare »










Wednesday, June 20, 2007

Citações do Tema Beleza !!! FERNANDO PESSOA




« A beleza de um corpo nu só a sentem as

raças vestidas. O pudor vale sobretudo

para a sensibilidade como o obstáculo

para a energia - Fernando Pessoa »




Em busca do Amor - FLORBELA ESPANCA



EM BUSCA DO AMOR


O meu Destino disse-me a chorar:

« Pela estrada da Vida vai andando,

E, aos que vires passar, interrogando

Acerca do Amor, que hás-de encontrar. »



Fui pela estrada a rir e a cantar,

As contas do meu sonho desfiando...

E noite e dia, à chuva e ao luar,

Fui sempre caminhando e perguntando...



Mesmo a um velho eu perguntei:

« Velhinho, viste o Amor acaso em teu caminho? »

E o velho estremeceu... olhou... e riu...



Agora pela estrada, já cansados,

Voltam todos pra trás desanimados...

E eu paro a murmurar: « Ninguém o viu!... »


FLORBELA ESPANCA



Tuesday, June 19, 2007


Este livro que vos deixo - ANTÓNIO ALEIXO !!!

O poeta António Aleixo, cauteleiro e guardador de rebanhos, cantor popular de feira em feira, pela redondezas de Loulé, é um caso singular, bem digno de atenção de quantos se interessam pela poesia.
Embora não totalmente analfabeto -- sabe ler e tem lido meia dúzia de bons
livros -- não é capaz, porém de escrever com correcção e a sua preparação intelectual não lhe dá certamente qualificação para poder ser considerado um poeta culto.
Todavia, há nos versos que constituem este livro uma correcção de linguagem e, sobretudo, uma expressão concisa e original de uma amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida, que não deixam de impressionar.
Além disso, o tom sentencioso da maior parte das quadras que se reuniram e o facto de serem produto de uma espontaneidade, quase inacreditável para quem não conheça pessoalmente o poeta, justificam suficientemente a tentativa de dar a conhecer e de registar, em livro, uma inspiração raríssima, que seria injusto não divulgar.

« Quem nada tem, nada come,
e ao pé de quem tem comer,
se alguém disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Uma mosca sem valor
poisa c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
Vem da serra um infeliz
vender sêmea por farinha;
passado tempo já diz:
-- esta rua é toda minha.
À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra
vendo a guerra em terra alheia
não querem que acabe a guerra.
Descreio dos que me apontem
uma sociedade sã:
isto é hoje o que foi ontem
e o que há-de ser amanhã.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição
se a Razão mesmo vencida
não deixa de ser Razão.
O rato mete o focinho
sem pensar que faz asneira;
depois ou larga o toucinho,
ou fica na ratoeira.
Se o hábito faz o monge
e o mundo quer-se iludido,
que dirá quem vê de longe
um gatuno bem vestido?
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
Muito contra meu desejo,
sem lhe qu'rer dizer porquê,
finjo sempre que não vejo
quem finge que não me vê...
Por isso é sempre preciso,
p'ra nos livrarmos de p'rigos,
adular, ter um sorriso,
para os nossos inimigos...
Mas que inteligência rara!
E julgas-te uma competência!
Nem sei como tu tens cara
p'ra ter tanta inteligência!
Aqui não valho um vintém,
longe daqui sou dif'rente;
se vou onde vai alguém
às vezes pareço gente... »
ANTÓNIO ALEIXO
Ilustre Poeta Popular
« A amizade é como a urze uma
flor que não morre !!!

S/Título - ZÉCA AFONSO !!!




Dorme meu menino a estrela d'Alva

Já procurei e não a vi

Se ela não vier de madrugada

Outra que eu souber será pra ti.



Outra que eu souber na noite escura

Sobre o teu sorriso de encantar

Ouvirás cantando nas alturas

Trovas e cantigas de embalar.



Trovas e cantigas muito belas

Afina a garganta meu cantor

Quando a luz se apaga na janela

Perde a estrela d'Alva o seu fulgor.



Perde a estrela d'Alva pequenina

Se outra vier para a render

Dorme que ainda a noite é uma menina

Deixa-a vir também adormecer...

ZÉCA AFONSO



« O invisível é real. As almas têm o seu mundo »

Monday, June 18, 2007

Viva a Vida de Marinheir(a) !!!

Posted by Picasa

O Guardador de rebanhos - Alberto Caieiro




O GUARDADOR DE REBANHOS

IX - Sou um guardador de rebanhos



Sou um guardador de rebanhos

O rebanho é os meus pensamentos

E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca.



Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la

E comer um fruto é saber-lhe o sentido.



Por isso quando num dia de calor

Me sinto triste de gozá-lo tanto.

E me deito ao comprido na erva,

E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,

Sei a verdade e sou feliz.


"Alberto Caeiro" um dos heterónimos

de Fernando Pessoa


-*-*-*-


« Mil dias não bastam para apreender o bem;

mas para aprender o mal, uma hora é demais »

Confúcio