Friday, March 27, 2009

Barca bela




BARCA BELA

Pescador da barca bela
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Oh pescador?


Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!


Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela…
Mas cautela,
Oh pescador!


Não se enrede a rede nela,
Que perdido é ramo e vela
Só de vê-la,
Oh pescador,


Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela
Oh pescador!

Almeida Garrett

Tuesday, March 17, 2009

"O ZOÓFILO" ORGÃO DA SOCIEDADE PROTECTORA DOS ANIMAIS










VERGONHA



Acontece em pleno ano 2009 numa altura em que se fala de

futuro, de tecnologias avançadas, de paz, de solidariedade e

de amor.

Acontece nas Ilhas Faroe (Dinamarca), membro da União

Europeia.

O homem afirma a sua virilidade, a passagem ao estado

adulto, matando os golfinhos "Calderon" que se aproximam

para conviver e para saudar o ser humano.

É a paga que têm...

Há lágrimas que não chegam para chorar a maldade!



ana/eu!






Monday, March 16, 2009

La Bohème

Encantadora música que nos transporta para um mundo
maravilhoso!

Thursday, March 12, 2009

Pela luz dos olhos teus... Vinícius de M.









Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus

Resolvem se encontrar

Ai que bom que isto é meus Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus só para me provocar

Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar.


II


Meu, amor juro por Deus

Que a luz dos olhos meus já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus

Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará

Pela luz dos olhos teus

Eu acho meu amor que só se pode achar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar!


Vinícios de Morais




ana/eu!

Folhas caídas... Almeida Garrett





Almeida Garrett







Tuesday, March 10, 2009

Madrigal - Eugénio de Andrade






MADRIGAL


Tu já tinhas um nome, e eu não

sei se eras fonte ou brisa

ou mar ou flor.

Nos meus versos chamar-te-ei amor!


Eugénio de Andrade


Primavera! David Mourão Ferreira






PRIMAVERA


Todo o amor que nos prendera

como se fora de cera

se quebrava e desfazia

ai funesta primavera

quem me dera, quem nos dera

ter morrido nesse dia.


2.


Condenaram-me a tanto

Viver comigo meu pranto

viver, viver e sem ti

vivendo sem no entanto

eu me esquecer desse encanto

que nesse dia perdi.


3.


Pão duro da solidão

é somente o que nos dão

o que nos dão a comer

que importa que o coração

diga que sim ou que não

se continua a viver.


4.


Todo o amor que nos prendera

se quebrara e desfizera

em pavor se convertia

ninguém fale em primavera

quem me dera, quem nos dera

ter morrido nesse dia!


David-Mourão Ferreira







Sê tu a palavra... Eugénio de Andrade







SÊ TU A PALAVRA...


1.

Sê tu a palavra

branca rosa branca.


2.

Só o desejo é material.


3.

Poupar o coração

é permitir a morte

coroar-se de alegria.


4.

Morre

de ter ousado

na água amar o fogo.


5.

Beber-te a sede e partir

-- eu sou de tão longe.


6.

Da chama à espada

o caminho é solitário.


7.

Que me quereis,

se me não dais

o que é tão meu?


Eugénio de Andrade



ana/eu!






Saturday, March 7, 2009

Prospecção - Miguel Torga






PROSPECÇÃO


Não são pepitas de oiro que procuro

Oiro dentro de mim, terra singela!

Busco apenas aquela

Universal riqueza

Do homem que revolve a solidão:

O Tesoiro Sagrado

De nenhuma certeza,

Soterrado

Por mil certezas de alavião

Cavo,

Lavo,

Peneiro,

Mas só quero a fortuna

De me encontrar

Poeta antes dos versos

E sede antes da fonte.

Puro como um deserto.

Inteiramente nu e descoberto.


Miguel Torga




Companheiros -- Mia Couto




COMPANHEIROS


quero

escrever-me de homens

quero

calçar-me de terra

quero ser

a estrada marinha

que prossegue depois do último caminho



e quando ficar sem mim

não terei escrito

senão por vós

irmãos de um sonho

por vós

que não serei derrotados



deixo

a paciência dos rios

a idade dos livros



mas não lego

mapa nem bússola

por que andei sempre

sobre meus pés

e doeu-me

às vezes

viver



hei-de inventar

um verso que vos faça justiça



por ora

basta-me o arco íris



em que vos sonho

basta-te saber que morreis demasiado

por viverdes de menos

mas que

permaneceis sem preço


Companheiros...

Mia Couto








Thursday, March 5, 2009

Começo - Miguel Torga




Começo - Miguel Torga

Começo

Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.

II

Comprei a consciência do que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou!

Miguel Torga


ana/eu!