Saturday, February 9, 2008

Mar Manhã - Fernando Pessoa


Suavemente grande avança

Cheia de sol a onda do mar;

Pausadamente se balança,

E desce como a descançar


II

Tão lenta e longa que parece

De uma criança de Titã

O glauco seio que adormece,

Arfando à brisa da manhã.


III

Parece ser um ente apenas

Este correr da onda do mar,

Como como uma cobra que em serenas

Dobras se alongue a colear.


IV

Unido e vasto e interminável

Não são sossego azul do sol,

Arfa com um mover-se estável

O oceano ébrio de arrebol.


V

E a minha sensação é nula,

Quer de prazer, quer de pesar...

Ébria de alheia a mim ondula

Na onda lúcida do mar.


FERNANDO PESSOA




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