Friday, October 26, 2007

O Menino da sua Mãe... Fernando Pessoa






No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas trespassado

-- Duas, de lado a lado --,

Jaz morto, e arrefece


II


Raia-lhe a farda o sangue.

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos.


III


Tão jovem ! que jovem era !

(Agora que idade tem ?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera

« O menino da sua mãe »


IV


Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve.

Dera-lhe a mãe. Está inteira

E boa a cigarreira.

Ele é que já não serve.


V


De outra algibeira, alada

Ponta a roçar o solo.

A brancura embainhada

De um lenço ... Deu-lho a criada

Velha que o trouxe ao colo.


VI


Lá longe, em casa, há a prece:

« Que volte cedo, e bem !»

(Malhas que o Império tece !)

Jaz morto, e apodrece,

O menino da sua mãe.


Fernando Pessoa


































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