Wednesday, October 24, 2007

Soneto do Amor difícil - David Mourão-Ferreira





A praia abandonada recomeça

logo que o mar se vai, a desejá-lo:

e como o nosso amor, somente embalo

enquanto não é mais que uma promessa...



II

Mas se na praia a onde se espedaça,

há logo nostalgia duma flor

que ali devia estar para compor

a vaga em seu rumor de fim de raça.



III

Bruscos e doloridos, refulgimos

no silêncio de morte que nos tolhe,

como entre o mar e a praia um longo molhe

de súbito surgido à flor dos limos.



IV

E deste amor difícil só nasceu

desencanto na curva do teu céu...


David Mourão-Ferreira


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