Tuesday, January 20, 2009

Eugénio de Andrade






Frente a Frente


Nada podeis contra o amor,

Contra a cor da folhagem,

contra a carícia da espuma,

contra a luz nada podeis.


**


Podeis dar-nos a morte,

a mais vil, isso podeis

- e é tão pouco


**


As palavras

São como um cristal,

as palavras

Algumas, um punhal,

um incêndio.


**


Outras,

orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.


**


Desamparadas, inocentes, leves

Tecidas são de luz e são a noite

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.


**


Quem as escuta?

Quem as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?


**

Eugénio de Andrade







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