Wednesday, January 21, 2009

MÃE - Miguel Torga





Mãe...


Que desgraça na vida aconteceu,

Que ficaste insensível e gelada?

Que todo o teu perfil se endureceu

Numa linha severa e desenhada?


II


Como as estátuas que são gente nossa

Cansada de palavras e ternura,

Assim tu me pareces no teu leito.

Presença cinzelada em pedra dura,

que não tem coração dentro do peito.


III


Chamo aos gritos por ti -- não me respondes.

Beijo-te as mãos e o rosto -- sinto frio,

Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes,

Por detrás do terror deste vazio.


IV


Abre os olhos ao menos, diz que sim!

Diz que me vês ainda, que me queres.

Que és a eterna mulher entre as mulheres.

Que nem a morte te afastou de mim!


Miguel Torga







No comments: